sábado, agosto 14, 2010

Diálogo

- E a vida? Deve ser tomada a grandes ou pequenos goles?
- A grandes, com certeza.
- E por quê?
- Porque não se deve pensar a existência como certa. Você provavelmente vai morrer de uma forma que não quer, em um período da sua vida que você não vai escolher. Não existe uma vida certa como nascer, crescer, reproduzir e morrer. Alguns não reproduzem, outros nem chegam a crescer. De modo que viver a pequenos goles vai tornar sua vida frustrante em dois sentidos. Primeiro, porque só os grandes goles nos alimentam. Trata-se de sentir a força vital. Segundo, porque viver se conservando para o futuro é uma incoerência sem tamanho visto que o futuro, por mais que não queiramos, é incerto.
- Mas quem vive a grandes goles sempre não pode acabar se afogando?
- Me diga então, se por acaso, pequenos goles e doses homeopáticas alimentam o ser?
- Talvez... a moderação é uma virtude
- Olha, não me leve a mal, mas esse papo é uma tremenda balela. Quem prega isso certamente é fraco de vontade e, pior, espera dos outros o mesmo. Me diga se a prudência levou o europeu à era das navegações?
- Isso não tem nada a ver.
- Mas como não? O espírito incauto não conhece o medo e o medo é muito medo da morte. Você tem medo da morte?
- Não sei. Talvez tenha.
- Mas não tenha. Ela é a sua única certeza. O mundo é composto de nascer e morrer. Não acredite no horror da morte, pois, assim como a vida, a morte tem a sua beleza.
- E que bem há de existir na morte?
- Ora, mas agora caminhamos em um terreno deveras complicado pois ninguém volta para contar.
- Pode ser...

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