quinta-feira, julho 23, 2009

Mulheres que passam

A morena passou numa elipse. Um eclipse em meu coração. O lapso, a pontada primeira do ataque, passo fulminante em falso refletiu seu ébano. Cada perna que valia vida e meia de presente, carícia e conversa. Os olhos duas luas negras , jaboticabas maduras que passaram além, no último e mais distante galho.
Essas mulheres são mágicas. Perfume de dama-da-noite em campo sozinho. Fraco que sou e manda uma flecha dessa. Torpedo com alvo certo. Devia ter pena porque, para pagar o meu pecado de ela existir, me arrasto até a sua divindade e peço de volta a vida dela que era antes de mim. Foi e deixou a volúpia de um cadafalso. Chutou a base e me deixou pendurado. As costas e um bumbum... que seria tão bom morrer agora.
Mas o que sobrou foi um rabisco e a morena que nunca mais vi, nem que fosse em memória.


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A primeira vez que a olhei com cobiça, respondeu com uma preguiça enrabichando-se em si mesma, braços ao firmamento, como um animal que troca de pele. Na verdade, quem trocou fui eu.
A partir daquele momento o coração de suas costas bateria em mim outros sentimentos. Seus olhos nunca mais tiveram o verde que tinham. Tornaram-se completamente brancos e apontavam para dentro. Tinha eu , então, permissão para entrar e sair. Muito conveniente. O cartão magnético que abria o portal........
(putz! Tudo tão perfeito e entra esse maldito cartão magnético na passagem. A tecnologia corta-me em fatias e vou à mesa servido com bastante falta de inspiração).


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Ela passou rente no ônibus, meio sem jeito, desengonçada. Passou ligeira e desceu. Ainda pude ver o seu rosto por algum segundo, que não sai da memória de fita cassete.
Cada frame passa lentamente...
São fotos de um dia de pic-nic, com algum raio de sol, vista em amarelo e um campo cheio de crianças aladas guiadas por mulheres nuas e lindas que tocam flauta. Ali também, logo ao lado, alguns porcos antropomorfizados vestidos de verde marcham com bandeiras vermelhas. Têm em seus corpos brotoejas protuberantes que também vão ficando verdes com o tempo.
Assim são as fotos em detalhe.
Mas, no instante que vi, só consegui imaginá-la artista. Artista de uma daquelas propaganda de metrô, feitas com técnicas que os físicos da Nasa estudaram anos para estabelecer com o objetivo de compor um filme na parede. Atriz de parede de metrô.
A parede como película. A parede verdadeira película para o filme real. A realidade despejada na película que é a parede. Película filmográfica que fotografa os frames da vida e os gera dentro desse grande reprodutor do real, a realidade(?).
E aquela imagem passou muito rápida. E o que ficou das fotos, de cada frame é o que a astuta memória, ou falta dela, conseguiu guardar. É um raio de sol amarelado e um campo...

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