quarta-feira, julho 29, 2009

O homem que virou árvore

Ele queria um lugar onde pudesse deitar. Já eram mais de cinco da tarde e a enxada começava a ficar pesada demais. Olhou pra os lados e não viu coisa alguma que fizesse sombra a não ser ele mesmo.
Decidiu recostar-se em si e observar o dia que desmanchava. Aos poucos alguns passarinhos vieram pousar em seus ombros. Dali a algumas horas em sua cabeça fizeram um ninho. A lua veio, virou a noite em outro dia e agora começavam a penetrar o solo em raiz os seus dedos. Buscavam o centro da terra, aconchegante como útero de mãe.
Depois de algumas semanas, sua pele criou casca, alguns galhos principiaram a busca por luz e equilíbrio desenhando uma figura outra. Quase um mês depois, galhos saindo de seu tronco e suas costas se ramificavam. Criavam folhagem desenhando uma estrutura que não mais se assemelhava à de um ser humano.
Mais um tempo gastou para que seu sangue fosse substituído pela seiva que agora buscava no sol e na chuva a sua regeneração. Quem por ali passa não vê nada senão uma árvore de seus metro e pouco. Recostada nela, uma enxada velha e suja. O homem tinha virado árvore.

Um comentário:

  1. que incrível isso, Sérgio!
    mal posso crer que essas coisas saíram da mente insana daquele menino que senta lá no fundo da sala, todo na dele, 'de boa', como você mesmo diz...
    ou melhor, depois das coisas que andei lendo por aqui, acho que começo a acreditar, sim.
    fantástico, sério.

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